O que acontece com a Folha de S. Paulo

Comunicação
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Folha de S. Paulo deste sábado, dia 08 de fevereiro, publica uma notícia completamente descolada da realidade. O jornal afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o responsável por uma suposta decisão do Partido dos Trabalhadores de aceitar alianças com PSDB, DEM e com o centrão no próximo período eleitoral. O problema é que a resolução da Direção Nacional do PT diz exatamente o contrário. Ao longo de quatro páginas, a direção do partido argumenta que a política ultraneoliberal do governo Bolsonaro produz o crescimento da pobreza, da desigualdade, que exclui direitos e promove a concentração de riquezas. O texto publicado pelo PT afirma que essa agenda compromete a construção de um projeto de desenvolvimento com inclusão e, por isso, precisa ser combatida.

Por Pedro Simon Camarão, no portal da Fundação Perseu Abramo

Além de criticar a agenda econômica do governo Bolsonaro, a resolução do PT ainda critica o incentivo à discriminação, à violência e à censura, promovido pelo presidente e por seus aliados políticos. Com relação aos aliados do governo, o texto do Partido dos Trabalhadores é bem claro quando critica parcelas da elite que tentam se distanciar do bolsonarismo somente em relação à agenda social, mas mantêm o apoio ao plano econômico ultraneoliberal liderado por Paulo Guedes. Essas parcelas são nominadas como “centro político” e qualquer aliança com estes grupos está vetada pela direção nacional do Partido dos Trabalhadores. O texto, inclusive, nomeia PSDB e DEM entre os vetados.

Dessa forma, é impossível compreender qual foi a leitura que o jornal Folha de S. Paulo fez da resolução publicada pela Direção Nacional do partido. A manchete da reportagem publicada no jornal impresso deste sábado é “Sob Lula, PT autoriza alianças com centrão, PSDB e DEM”. Um pequeno “drops” na seção “erramos” não será suficiente para corrigir tal erro. Nos últimos dias, a Folha vem publicando entrevistas e reportagens sobre o momento do PT porque o partido está prestes a completar 40 anos. Agora, fica a dúvida sobre se houve um erro crasso ou se foi uma ação de má fé.

Folha de S. Paulo vem dando sinais confusos nos últimos tempos. Desde que Jair Bolsonaro elegeu o jornal como um grande inimigo, a Folha vem adotando um discurso mais “progressista”. A publicação das reportagens da série Vaza Jatocom as revelações das conversas secretas entre procuradores da força-tarefa da Lava Jato e Sergio Moro é um exemplo fortíssimo. Entretanto, o jornal vem tentando se distanciar ao máximo do ex-presidente Lula e do PT, provavelmente, como uma forma de dizer para o seu público que não é um veículo petista ou de esquerda, como diz a extrema-direita. De fato, a Folha nunca foi petista nem mesmo progressista. Aliás, o jornal vem demonstrado total apoio à agenda econômica do governo. O problema é que, para tentar se afastar do que vem sendo classificado como “ala ideológica” do governo Bolsonaro e de setores da esquerda, o jornal produz notícias e interpretações como a publicada hoje.